29.6.12

Cuidar do paciente psiquiátrico é dever do Estado e não da família

Recebi uns comentários bem interessantes nas publicações Internação a força não beneficia ninguém e O direito de não ser internado a força. Realmente o Estado tem falhado em seu papel de devolver a cidadania ao paciente psiquiátrico, não somente no Brasil, mas em praticamente todos os países.

Surgiu uma política demagoga que diz que reinserir o paciente psiquiátrico na sociedade é inseri-lo na família. Daí começaram a mandar doentes mentais para famílias sem a menor estrutura. O paciente sem estrutura e a família sem estrutura.

Nesse esquema, os profissionais de saúde mental tentam responsabilizar a família, colocando os familiares como responsáveis em dar a medicação para o paciente. Em outras palavras, transformam familiares em enfermeiros. Observe que pacientes psiquiátricos não são doentes comuns e precisam de atenção especial.

Pouco depois de sair de minha primeira internação eu sofri um efeito colateral super estranho: minha língua ficou VIVA, eu perdi o controle de minha língua. Enfim, minha língua ficou IMPREGNADA. E minha consulta com a psiquiatra era dentro de dois meses! Como a família vai lidar com isso?

Eis a total falta de assistência que me levou a recaídas! Dois meses!!

Quando eu digo que um familiar NÃO DEVE tomar para si a responsabilidade de internar, garanto que é o melhor para todos. Explico porque: quando um familiar interna o sistema psiquiátrico o torna responsável. E tiram a responsabilidade do paciente, mas tiram também a cidadania.

Que a família chame ajuda da polícia ou do SAMU ou dos bombeiros, mas que não aceite assinar internação. Internar é papel do Estado. É responsabilidade do Estado.

Existe INTERNAÇÃO VOLUNTÁRIA, ou seja, cabe ao psiquiatra ou outro profissional de saúde convencer ao paciente psiquiátrico a assinar uma internação, explicando que se trata de ajuda. Se os profissionais de saúde mental não forem capazes disso, como seriam capazes de tratar doenças mentais?

Quando alguém fica doente, deve ter ao menos o direito de dizer onde está doendo. Eu já fui internado seis vezes e nenhum psiquiatra NUNCA me perguntou o que eu sentia nas crises para prescrever medicação. Era como se minha opinião não importasse. A propósito, por isso que os pacientes não querem tomar a medicação. Como vamos tomar medicação se sequer somos consultados?

Mas mesmo assim eles colocam no familiar a responsabilidade de fazer o paciente tomar a medicação. Evidentemente, pelos motivos que citei acima, mais cedo ou mais tarde o paciente se nega a tomar.

Eles não dão alta, apenas passam a responsabilidade de reinserir o paciente para a família. E depois de uma internação a gente sai com uma mão na frente e outra atrás.

no mínimo eles deveriam nos garantir um benefício provisório e uma moradia provisória para que não tenhamos que incomodar os familiares logo ao sair da internação.

(Não estou falando de residência assistida, pois isso tira a privacidade e a liberdade da pessoa. Quando alguém recebe alta, no mínimo tem direito a privacidade.)

Por isso eu tomei uma decisão: caso eu venha a ser internado outra vez eu estou orientando meus familiares a NÃO me acompanharem, não me visitarem. Dessa vez eu estarei exigindo que o sistema psiquiátrico dê alta para mim, que consultem a mim, e não a minha família.

E de fato, a pessoa que comentou tem razão: o Estado precisa dar estrutura para o paciente psiquiátrico. O problema não é morar com familiares depois de adulto.

Não tem nenhum problema um adulto morar com a mãe, por exemplo. O problema é não ter como se manter e sequer poder ajudar. E pior ainda é transformar familiares em enfermeiros.

8 comentários:

  1. Anônimo1:40 PM

    Fico muito feliz que meus comentários tenham sido bem compreendidos. Só uma coisa: concordo que diante do quadro atual os familiares não deveriam interferir com a "liberdade" de seus entes queridos portadores de transtorno mental, mas acho que você pode imaginar o quanto é dificil para um pai ou mãe expulsar de casa um filho alucinado e deixá-lo correndo perigo, quando sabe que ele não tem culpa do que está lhe acontecendo. Por isso mesmo, essa política do Estado de transferir o cuidado do paciente para a família despreparada se torna ainda mais oportunista, cruel e desastrosa.

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  2. Anônimo7:05 AM

    O Estado quer nos jogar uma responsabilidade que não temos,tenho um irmão que já foi internado inúmeras vezes e não fica lá mais que 15 dias,ele tem esquizofrenia entre outros disturbios,mora com minha mãe de 65 anos,sei que não deveria morar com ela porém não posso assumi-lo,trabalho muito,meu marido tem menos estrutura emocional do que eu... Desculpe o desabafo mais me vejo sem saída e desanimada... O Estado acho que o problema é nosso,como se a culpa fosse nossa...

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  3. Cuido do meu irmão com esquizofrenia cronica, ele não aceita tomar remédios e por isso eu coloco na comida ou suco, realmente me sinto uma enfermeira dele e as vezes me sinto muito estressada, mas penso que em determinados casos como do meu irmão que fala coisas sem sentido, desorganização mental, deixa-los com pessoas estranhas longe da família é cruel, nós que assumimos a responsabilidade de cuidar temos sim que ter apoio do Estado financeiro e disponibilizar agentes de saúde para acompanhamento periódico,

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  4. Tenho uma amiga que está sofrendo muito, pois ela é sozinha com a mãe, que é paciente psiquiátrica. Ela precisa trabalhar, pois tem que comprar os remédios e tal, além de manter a casa, mas, ao mesmo tempo, ela fica preocupada em sair para trabalhar e deixar a mãe sozinha. Ela acaba deixando e, por duas vezes, a mãe quase colocou fogo na casa. A paciente não confia em ning e não aceita o tratamento e as internações publicas mantem o paciente por 15 dias no máximo. Ela é esquizofrênica e está num estado lastimável, pois nunca dorme, não toma banho, não come nada. Gostaria que alguem pudesse ajudar minha amiga, compartilhando alguma experiencia, sei lá. Ela ja nao sabe mais o que fazer, perdeu o emprego e não dorme mais a noite com medo da mãe colocar fogo na casa. Eu gostaria de ajudar, mas não sei como. Obrigada

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  5. Anônimo1:33 PM

    Também tenho um caso complicadíssimo na família. Uma pessoa esquizofrênica muito agressiva, que não aceita ser doente e, literalmente, persegue todos os parentes. Também não foi possível interná-la e, após o falecimento da pessoa que morava com ela, a situação piorou ainda mais. Ela não está mais sendo medicada (a pessoa que cuidava misturava os remédios em sucos, a pessoa melhorava um pouco, mas mesmo assim continuava agressiva) então agora está em total descontrole. Os poucos parentes que ainda tentavam manter algum contato acabaram se afastando por causa do comportamento muito violento da pessoa e inclusive a família mais próxima se afastou, também por medo. Há casos, como dessa pessoa, que acho que a única solução seria internação, mas o Estado transferiu toda a responsabilidade para os parentes próximos. O que fazer neste caso, já que todo mundo tem medo da pessoa?

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  6. Anônimo12:25 PM

    Minha família me abandonou !! Antes, tentaram me matar por intoxicações, com as medicações psicotrópicas (Risperidona, Haloperidol, Frontal@, Melleril©, Diazepam©, Fluoxetina... e toda classe psicotrópica), subornavam médicos de planos de saúde (Plamtel, ABET, Bradesco) e, quando melhorei, se afastaram, mesmo tendo condições (aposentados, com saúde e recursos suficiente). Numa internação, o paciente acabou com a sala do médico (bateu no médico e quebrou a sala dele - detalhe: hospital psiquiátrico, do Estado de São Paulo SP, que torturam seus pacientes, em todas as unidades psiquiátricas - Mandaqui, Água Funda, Pinel, Juqueri, Vila Mariana, IPT Hospital das Clínicas, no manicômio judiciário, no hospital de Custódia, Serraria Diadema, Mario Covas Santo André). Bom o Estado assumir, porque os convênios deixam os pacientes na mão e seus profissionais (a ponto de num consultório, o médico ter que limpa-lo, pois não pôde pagar uma faxineira - e até secretaria vários que atendem convênios não têm mais). E remédios, que se não pegassemos nos postos, passariamos fome para pagar? Paga consulta ou convênio, paga o remédio e falta a comida em casa? Absurdo !! E as políticas (Dória PSDB prefeito de São Paulo SP e Alckmin PSDB) querem "favorecer" os particulares e convênios!! E, só sabem dar remédios ou so sabem internar (ameaçam de internar se nao tomar os remédios à força). Não nos pedem exames de sangue, Eletro Encefalo Grama (EEG) Mapeamento Cerebral, não nos pesam (há remédios que engordam), não medem a pressão no braço (há remédios que aumentam nossa pressão), não medem a pressão na cabeça, e esse remédios são formulados para causarem doenças crônicas !! Não nos dão reabilitação, hospital dia em psiquiatria, psiquiátra 1 ou 2 vezes por semana (nem SUS nem convênio esses tratamentos) - "se" conseguir, a cada 4 meses (ou 2 meses quando muito - SUS e convênio). Mesmo a psicoterapia, os convênios não querem pagar !!

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  7. Estou lendo e vendo minha vida com uma irmã esquisofrenicaiu que não quer tomar remédios sou só eu e ela no mundo.

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  8. Este comentário foi removido pelo autor.

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As informações dispostas aqui são CONFIRMADAS através de várias fontes. A qualidade obtida aqui não se consegue da noite para o dia, mas sim de uma experiência de VÁRIOS ANOS.

Portanto, se houver algo a ser corrigido aqui, publique nos comentários, mas COM PROVAS, como eu faço.

Algumas pessoas, ao tomar medicações psiquiátricas ou drogas ilícitas, não sofrem efeitos adversos significativos (como vemos algumas pessoas que fumam a vida toda e morrem de velhice.) Portanto verei como normal algumas pessoas dizerem que nunca sentiram nenhum efeito colateral ao tomar determinado psicotrópico.

Mas qualquer indivíduo que escrever algo contra as informações técnicas mostradas aqui deve PROVAR IMEDIATAMENTE na mesma mensagem, do contrário terei que deletar.

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