16.2.16

Erros de português e como evitá-los

Para comentar alguns erros de português vou contar com a colaboração de alguns documentos escritos por profissionais de saúde mental, alguns com mestrado ou doutorado.

Algum profissional de saúde mental escreveu SÓCIO REABILITATIVO. Está errado, e não é nenhuma surpresa. Se trata de um termo difícil. Para escrever bem, é aconselhável evitar termos difíceis. E é aconselhável pesquisar no DICIONÁRIO. Para que tentar passar a impressão de ter um conhecimento que você não tem?

o correto seria SOCIO-REABILITATIVO.

É bom diferenciar SÓCIO de sociedade de SOCIO-REABILITATIVO, em que SOCIO- lembra social, se refere a social.

O Minidicionário da Língua Portuguesa de Evanildo Bechara explica que o hífen é usado em palavras com ELEMENTOS DE COMPOSIÇÃO, e "socio-" é um elemento de composição, e é DIFERENTE da palavra "sócio".

Em meu laudo, a psiquiatra escreveu HIPERSSEXUALIDADE. Esse é um erro absurdo!

Somente se usa SS quando um S está entre vogais, para indicar que a pronúncia é S e não Z.

Exemplos:

CASAR, com um S significa contrair matrimônio e se pronuncia CAZAR. Mas CASSAR com SS significa tornar nulo, cancelar, e se pronuncia CAÇAR. Enfim, o SS diferencia a pronúncia de S entre vogais. Não é comum no português SS depois de consoante. Logo, NÃO EXISTE a palavra hiperssexualidade em português e em nenhuma outra língua que eu conheço.

Para a próxima avaliação, pego um texto que fala sobre oficinas terapêuticas e centros de convivência.

Oficinas Terapêuticas e Centros de Convivência


Não compreender as oficinas terapêuticas apenas como procedimentos dos serviços de saúde e sim como redes de negociações e de oportunidades, de novas formas de sociabilidade, de acesso e exercício de direitos - como lugares de diálogos e de produção de valores que confrontem os pre-conceitos de incapacidade, invalidação e anulação da experiência da loucura. Os Centros de Convivência devem se constituir em espaços onde as pessoas participam (participem) de atividades que aprecia e escolhe, não são espaços de permanência dia e nem de atendimentos clínicos. As pessoas que trabalham ali não devem ser profissionais de saúde, e sim artistas, artesãos, "oficineiros".

Observe que ao escrever PRE-CONCEITO a pessoa não havia esquecido o acento em PRE, que deveria ser escrito PRÉ. Ela fez questão de frisar que REALMENTE queria escrever assim! Mas ela queria dizer PRÉ. É que esse profissional de saúde mental não sabia que PRE se pronuncia com E fechado, é um PREFIXO, já PRÉ- é um ELEMENTO DE COMPOSIÇÃO, e aí sim, tem uma pronúncia aberta. E a não ser em FORMAS AGLUTINADAS, como em PRECONCEBER ou PRECONCEITO, devemos escrever PRÉ-CONCEITO ou PRÉ-CONCEBER, se queremos usar o hífen para frisar certos sentidos.

Quanto a "Os Centros de Convivência devem se constituir em espaços onde as pessoas participam de atividades que aprecia e escolhe..."
Nossa! Que coleção de erros absurdos!

Comecemos a análise:
"Onde as pessoas PARTICIPAM" passa obrigatoriamente a ideia de um PRESENTE certo que já está acontecendo. Mas a pessoa está falando de uma possibilidade que pode acontecer no futuro. Neste caso é preferível escrever ONDE AS PESSOAS PARTICIPEM...

Mas isso não é grave... nem pode bem ser considerado erro, é apenas pouco claro...

O grave vem agora!

Em "Os Centros de Convivência devem se constituir em espaços onde as pessoas participam de atividades que aprecia e escolhe"... "aprecia e escolhe" concordam com o quê?? Já que todos os sujeitos estão no plural!!!

O certo seria "Os Centros de Convivência devem se constituir em espaços onde as pessoas participem de atividades que apreciem e escolham..."
(Observe que duas frases poderiam ser construídas, com significados diferentes: "Os Centros de Convivência devem se constituir em espaços onde as pessoas participem de atividades que apreciem e escolham..." significa que nesses Centros de Convivência as pessoas PODERÃO participar de atividades que É POSSÍVEL que APRECIEM, e que elas possam ESCOLHER à vontade. Diferente de uma frase alternativa, aparentemente semelhante, mas com significado diferente: "Os Centros de Convivência devem se constituir em espaços onde as pessoas participem de atividades que apreciam e escolhem...", que significa que as pessoas PODERÃO participar de atividades que elas JÁ apreciavam e escolhiam em suas vidas cotidianas e que são transferidas para os Centros de Convivência, ou seja, elas ENCONTRARÃO essas atividades lá COM CERTEZA, já não se trata apenas de uma POSSIBILIDADE.
Outra frase alternativa (também com um outro significado) é "Os Centros de Convivência SE CONSTITUEM em espaços onde as pessoas participam de atividades que apreciam e escolhem...", que quer dizer que nos Centros de Convivência as pessoas, DE FATO, participam de atividades que ela realmente apreciam e escolhem à vontade...)

Como Evitar Matar a Língua Portuguesa Na Fala


A melhor forma de evitar falar errado é evitar PRECIOSISMO, ou seja, EVITE TENTAR FALAR BONITO DEMAIS. NÃO TENTE FALAR DIFÍCIL SEM SABER. É de péssimo gosto.

É comum e aceitável as pessoas pronunciarem a palavra BLEFE fora das NORMAS CULTAS. A pronúncia de acordo com as normas cultas é BLEFE (BLÉFE) com É aberto. Mas popularmente se pronuncia BLÊFE.
É que a palavra BLEFE vem do inglês BLUFF. como a pronúncia em inglês de BLUFF é mais aberta a norma manda que seja pronunciado aberto em português. Como, por exemplo, no caso de FLERTE que vem de FLIRT. Neste caso particular FLIRT é pronunciado fechado em inglês, portanto em português também é pronunciado FLERTE (FLÊRTE) fechado.
Mas as pronúncias populares já são grafadas nos dicionários, atualmente, como corretas. Não era assim.

MAS NÃO DAVA PARA SUPORTAR DOUTORES PRONUNCIANDO QÜESTÃO!!! Lógico, hoje em dia, eu sou mais tolerante com isso. Putz, foi até bom derrubar o TREMA, já que eles nem sabiam qual era a função do famigerado trema. O trema em português indica que uma letra que normalmente não deve ser pronunciada, EXCEPCIONALMENTE, É pronunciada.

Lembrando que QUESTÃO NUNCA teve trema!!! Mas, devido ao grande número de homens importantes e INFLUENTES pronunciando "qüestão", já há algum tempo a pronúncia qüestão é aceita. Inclusive, meu dicionário Houaiss de 2001 já traz registrado tanto a grafia "questão" quanto a grafia "qüestão".
A pronúncia correta era QUESTÃO, sem pronunciar o U. O U era SEMPRE mudo!! Questão se pronunciava KESTÃO. Agora, tanto a pronúncia "KESTÃO" quanto a pronúncia "qüestão" estão corretas.
Eu achava que isso era um preciosismo bem exagerado, já que dificulta a pronúncia. Mas tem gente que gosta de falar difícil!... Fazer o quê?
É uma pronúncia forçada, com traços de anglicismo.

Nota: esta postagem tem a ideia de fazer uma brincadeira. Espero que as pessoas não levem a mal. E pelo contrário, que aproveitem as dicas de português que são verdadeiras e podem ajudar bastante na sua vida.

E é claro, estes foram exemplos de DOCUMENTOS. Documentos que foram escritos de forma relaxada. Vale para a gente refletir também. Será que não devemos ser mais cuidadosos ao escrevermos documentos?

Claro que esta postagem realmente é uma crítica contra o preciosismo que tenho observado nestes profissionais, que estão um pouco orgulhosos demais.
E sinceramente, esta postagem busca trazer à discussão a educação brasileira, que não leva a sério os conhecimentos da língua portuguesa, dando mestrados e doutorados para pessoas que não dominaram o básico da própria língua.

Mais um serviço social educativo do BLOG PACIENTE PSIQUIÁTRICO.

Outras dicas de Português

O uso de porque, por que e porquê e por quê não é complicado. É fácil quando se aprende o uso.

POR QUE é usado para fazer perguntas. Exemplo:
Por que no Brasil profissionais com mestrado e doutorado têm problemas sérios de ortografia?

PORQUE é usado para dar a resposta:
Porque a educação no Brasil não leva o ensino de português a sério.

SOMENTE se acentua POR QUE em final de frases. Portanto, eis um exemplo do uso de POR QUÊ.

Você sabe por quê?

PORQUÊ é um substantivo. Ou melhor, tem a função de substantivo. Exemplo:

Sabemos o porquê do desmazelo na educação brasileira. É porque há muita vaidade nas classes mais abastadas.


Originalmente publicado no dia 18 de julho de 2010. Atualizado no dia 19 de fevereiro de 2016. (469)

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